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"Vermelho vivo é uma fenda, um corte, uma ferida aparentemente cauterizada que teima em deixar escapar sangue em suas fissuras pouco afeitas à cicatrização. Quando me recordo da minha adolescência, uma grande mancha vermelha me vem à mente. Uma profusão de traços e líquidos sem forma aparente, uma explosão de vida em forma pouco ordenada. Quando retraço o meu me-tornar-mulher, o vermelho vivo é cor de base, é pano de fundo para contrastar passado, presente e futuro. A escrita vermelho vivo que se desenrola neste livro é puro desejo de potência de vida." (trecho do prefácio escrito por Bárbara Biscaro)

 

Leia um trecho do conto "ARTIGO_TESE_VERSÃO 2"

 

"Eu decidi que não ia ser mãe ‒ aos quinze anos. Tinha visto na TV uma notícia sobre uma mulher grávida de oito meses e seu marido em um acidente de moto. O homem sobreviveu. A esposa não. Mesmo assim, conseguiram salvar o bebê. Não entendo porque quase tive certeza de que eles poderiam ter salvo a mulher se tivessem renunciado ao bebê. Em situações dessas, se tiverem que escolher, escolhem o filho e não a mãe. Fiquei com essa ideia na minha cabeça por um tempo. Imaginei o que teriam feito se fosse comigo. Para não correr o risco, tentei me desinteressar pelos meninos e depois pelos homens. Fui uma das últimas meninas da minha turma a perder a virgindade. Também não gostava de imaginar que se eu estava perdendo algo é porque alguém estava ganhando aquilo às minhas custas. Não são essas as regras desse jogo, humanos. Já começamos mal. Se bem que não tenho certeza de que tipo de jogo seria. Talvez dependa das pessoas envolvidas? Talvez dependa em certa medida da geografia aliada de forma mesquinha à matemática: quanto maior a distância entre dois corpos, maior a probabilidade de não voltarem a se tocar.

 

Também com quinze anos eu decidi que ia me dedicar à carreira científica: passava a tarde inteira depois da escola olhando o andar das centopeias e a cor da casca dos ovos dos passarinhos. Anotava minhas observações em uma agenda velha. Nem a minha cachorrinha escapava de ser analisada. Anotava o quanto e o que ela comia, seu peso e suas variações de humor. Um dia, por acidente, um vizinho a atropelou. Morte natural ou catastrófica? Se ela for enterrada no quintal, qual a chance de preservação? Apesar da minha cautela em coletar os dados, ali eu descobri que às vezes estudo e afeto se misturam."

Vermelho Vivo

SKU: LIC003
R$ 35,00Preço
  • Alessandra Boos conta histórias a partir da escrita, da dança, do teatro e da biologia. Frequenta simultaneamente o teto de Virginia Woolf e o quarto de Carolina Maria de Jesus. Nasceu em Blumenau (1984) e tem textos espalhados pela internet desde o começo dos anos 2000. Integra as coletâneas de contos “O Livro das Metamorfoses” e “Dez” do projeto Formação de Escritores do SESC-Santa Catarina. Já chamou de lar Curitiba (2004-2007) e Porto Alegre (2009-2015). Vive desde 2019 em Florianópolis, de onde escreve para o perfil literário A Mulher Educada.

     

  • Vermelho Vivo

    Livro de contos

    Dimensão: 14x21 cm

    96 páginas.

    * imagem ilustrativa

     

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