Sinospse: Migalhas céticas e niilistas, com suas 200 máximas e aforismos, toca, através da reiteração e da contundência, em alguns aspectos caros para uma existência que procura agregar sentido e valores. A primeira parte do livro reflete sobre a importância da arte na existência, uma espécie de libertação para o espírito; já a segunda, remete à importância da dúvida, não só enquanto método, mas, também, como postura existencial; no tocante a terceira parte, temos o tempo, este conhecido incógnito, pensado muito mais na sua perspectiva psicológica e simbólica; por fim, na última parte, a existência enquanto um fenômeno malogrado, é percebida principalmente na perspectiva política, social e ontológica. Ceticismo e niilismo aliam-se, assim, para criticar o pensamento dogmático, e para romper com todo tipo de otimismo e utopia disseminados na cultura.
 
Confira alguns aforismos do livro:
 
5.
 
O desapego, a renúncia a qualquer volição, diante de uma obra de arte verdadeira, é algo tão poderoso para o fruidor autêntico, que Schopenhauer não deixa de registrar e desenvolver esse arrebatamento em sua obra magna. A arte representa um dos mais altos níveis da espiritualidade humana, sendo um preâmbulo da ascese total, alcançada por aquele que busca o nada, o Nirvana. Por isso, a beleza, que para os gregos era um conceito indissociável da virtude, na modernidade está acima da moral. Nos grandes poetas de nosso tempo, é mais forte o elogio dos valores estéticos do que propriamente de uma ética coletiva ou, mesmo, pessoal. Quando muito se dá uma transvaloração moral, e aí o paradigma passa a ser Nietzsche. Mas, por outro lado, há os poetas que mergulham no gouffre, no abismo, e retiram daí a atração pelo negativo, pela transcendência às avessas, pela busca do nada. E aí volta Schopenhauer a ser centro convergente.  
10/03/2021.
 
6.
 
O automatismo psíquico, a inspiração, o humor negro, o fluir incessante de imagens... ganham destaque na estética surrealista. Aliás, mais do que propriamente uma estética, o surrealismo é um modo ímpar de ler a realidade e transmutá-la. Daí que entre o sensório e o inteligível há uma gradação que nos leva do real ao surreal. 
11/03/2021.