PRÉ-VENDA: LIVRO + CARD  Essa cidade muda e outro conto Há dois narradores que se cruzam e se atravessam em suas relações cotidianas nos contos que compõe o livro. Em "Essa cidade muda" e "O tímido", eventos aparentemente banais que acontecem nas rotinas de uma cidade, essas "traminhas" que nos atravessam diariamente, desencadeiam, em ambos os contos, uma série de acontecimentos que conduzem, provocam e instigam narrador e leitor a reflexões sobre amor, afetos e todas as encruzilhadas em que nos colocam.  Trecho: Essa cidade muda “Tudo isso, conforme conto, é de um orgulho bobo notável. Como se eu exagerasse em torno de um acontecimento que nem é um acontecimento, está mais para uma banalidade. Mas não sei não. Acho que as pessoas, em geral, não só eu, estamos todos ocupados desses desconfortos miseráveis. Que aquilo que nos anima não é nada demais a não ser essas traminhas do cotidiano para as quais costumamos fingir não dar muita importância. Pensar nisso é o que me deu disposição para retornar despojado do meu constrangimento. Mas, para minha surpresa, quase dobrando para a praça, eu me escondo. A verdade é que é estranho dizer eu me escondo. Seria mais verdadeiro dizer que algo em mim me escondeu. E quando dou por mim estou como uma espécie de espião, meio escondido atrás de umas plantas, para saber se a cena da qual fui expulso ainda estava acontecendo. E, meio que por detrás de uns arbustos, fingindo estar procurando um caminho por onde ir, olho de soslaio. Não estavam mais lá, nem a moça jovem desequilibrada e nem aquela impressionante e arrogante mulher de roupas de cores quentes a acalmando.” Trecho: O tímido “O reencontro de ontem, em tudo o que teve de bom, despertou o inferno das dúvidas em mim. Um beijo sem querer não me diz nada além de ficar sob o mesmo muro de sempre em relação à Heloísa. Essa mulher é esse muro por cima do qual caminho, incapaz de encará-la em qualquer uma de suas faces, pois não sei para qual lado ir, onde é dentro e onde é fora. Eu me olhei no espelho logo cedo, com expressão enfastiada e muita angústia. E, como sonhando acordado, juro que me vi como um desses soldados medievais, de corpo todo coberto, com um elmo cerrado, parado em cima do muro em posição de guarda. Um guarda antiquado, obsoleto, sem fazer a menor ideia do que está a proteger, fora de seu próprio tempo.”