Sinopse: Sei de antemão que no centro das preocupações estéticas (e quem sabe existenciais) da Monica reside o corpo – o corpo presente. Se bem que não é exatamente uma preocupação; acho que é mais uma atenção prazerosa (quase libidinosa), da ordem de um voyeurismo acadêmico, ao mesmo tempo que bem colada à sua superfície cotidiana e andante: uma expectativa de deslocamento. É o que se passa, a meu ver (e ouvir) na sua poesia instantânea, que morre a cada poema para renascer no próximo – feita de clarões no escuro em movimento(“tu comigo/ eu contigo/ foi só lampejo”, “viver mesmo é mar revolto/ sem capricho de rio prair e vir”). Movimento nada retilíneo e muito menos uniforme (às vezes instável, alternando lento caminhar e correria). [...] No conjunto, Celofane azul é uma caminhada pela orla, um mergulho no rio, um chope no calçadão. Todas essas paisagens embaladas em um filme plástico-membrana vibrante que dá o tom e envolve sem sufocar, colore sem saturar. Às vezes atento à forma como o leito de um rio, outras tendendo ao desmesurado como o mar, e não raro rebelde e atrevido como o ar, os poemas deste livro con(ser)vam o brilho do celofane azul. [trecho do prefácio por marcus vinícius nascimento]
 
Leia alguns poemas de celofane azul:
 
 
era sempre um tal de tudo.
morre de sede, morre de frio, mas não se toca
de amor é que não se vive
mas quem se importa
 
de dia a luz é forte
de noite o escuro é grande
pular no mar de um navio
isso sim é de matar
 
****
 
ah quanto tempo
mas como vai
é tanto querer
no nunca que vem
 
sobem e descem de tanto sentir
é quase hora de nada esperar
 
vão e voltam eles
se cruzam, se calam
muito querer num só lugar
 
****
 
 
pensar na vida
dos outros
da janela que passa
um segundo pra ver
o que não cabe