Sinopse: Trecho para a Orelha: Nesse entremeio, as aparências e os corpos separam-se para depois se fundirem novamente no céu estrelado da cidade grande, onde os seres vertebrados caminham pelos trilhos ferroviários e, não atentos, olham sem ver através da janela do trem, acabando por morrer sem enxergar a desgraça do coletivo que nada de coletivo é.A obra, assim, propõe e entrega essa miríade de sons e gritos de socorro, o que torna dura a medula de uma poesia que não quer mais ser poema, e da letra que não tem mais misericórdia. E todos esses sons confundem-se com os dos celulares, das redes sociais, da violência, da ganância, do tempo, da vaidade, do amor, da exploração, da contemporaneidade e da linguagem que progride em direção ao não-verbal e ao numérico. É a era das navegações metafísicas. Felippe Cassiano é um poeta com digitais precisas, que escreve o que tem que ser escrito, sem excesso de carne, de perfume ou de tempero. Comunica sem camuflar o odor da podridão que atinge o homem dia a dia, diante da eminente perda da própria vida. E contempla, também, a beleza da tragédia. É como esperar Godot em um açougue a céu aberto, nessa conurbação de entretempos que ocorrem de novo e de novo. Quem ousa fugir do urro das coisas sendo? [trecho prefácio por Bruno Marin, Escritor]
 
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Leia um poema:
 
in útero
 
tudo o que me impede é essa gravidade 
deveria saltar e tocar o céu
ao meio dia e sem queimar meus dedos capturar a luz e remar por entre
água e pó, empurrando o ar
e romper com uma faca a sutileza das coisas cortar os céus e as cortinas que nos envolvem despedaçando a falsa profundidade das coisas desvelando as máscaras que cobrem os rostos e os paletós que escondem o corpo tão belo
e todo dia seria um sonho pelo qual não gostaríamos de morrer